A cidade tinha à frente um rio de águas claras, onde os homens iam pescar o alimento diário de suas famílias, e ao fundo um lago, onde as mulheres iam lavar roupas e dar banho nas crianças. Havia, contudo, um cuidado daquelas mães em não ficar à beira do lago, depois de seis da tarde, porque se dizia que ali havia uma mulher, que fora encantada, antes de ser mãe. E que, por isso, encantava também as crianças que permanecessem por lá depois que o sol se punha, por trás da mata.
A população da cidade talvez não chegasse às mil almas ou se tivesse mais seria em números bem pequenos. A solidariedade era a marca registrada daquela gente e de tanto se preocuparem uns com os outros, havia quem, como em todo lugar, misturasse os interesses, o que fazia a fofoca ter seu abrigo por lá. É verdade que nada que prejudicasse mais seriamente alguém.
Mas, um dia, a mãe de Pedrinho descuidou-se e o menino, que era o mais aplicado aluno da professora Cibele, a única do lugar, ficou jogando bola, na beira do lago, até que de repente, sem que ninguém soubesse explicar, ele sumiu.
Homens, acostumados a mergulhar nas profundezas do rio, puseram-se horas a vasculhar o fundo do lago, outros, habituados à arte da caça, embrenharam-se mata à dentro, por dias, e nem sinal do pobre garoto. Seus pais desesperados não arredavam os pés de junto da imagem Milagrosa de Nossa Senhora, em orações, pedindo pela volta do filho querido. Mas, suas preces, ao que parece, não eram ouvidas pela Mãe de Deus.
Foi quando alguém se lembrou de Vó Esperança, uma senhora que era a parteira, que benzia as crianças contra quebrando e mau olhado, rezava erisipela, espinhela caída, dor nos quartos e outros males que atormentassem os moradores do lugar. A Vó, com certeza, haveria de saber uma reza que trouxesse Pedrinho de volta... E ela do alto de sua sabedoria, ao ver aquela gente toda lhe batendo à porta, disse: - Já sei, Pedrinho sumiu, não foi? Só que vocês demoraram muito a me procurar. Mas, a velha vai ver o que pode fazer.
Então, abriu um velho baú, pegou um terço de madrepérolas, um pequeno crucifixo de madeira, alguns galhos de ervas e perguntou: - Cadê Joaninha? Foi outro Deus nos acuda, por onde andará a pequena? Perguntavam-se todos. Joaninha era uma de suas netas, entre tantas que a pobre velha havia adotado. Uma de suas colegas lembrou que a vira entrando na casa da professora. Correram todos para lá e, graças a todos os Santos, lá estava a pequena Joana.
Vó Esperança tomou a menina pelas mãos e ordenou: - Fiquem todos aqui. E completou: - Vou ver o que posso fazer para trazer o Pedrinho de volta, antes que a mulher do lago o encante de vez. Joaninha, diziam os do lugar, era a namoradinha de Pedrinho, e Vó Esperança acreditava que, com as forças do amor, pudesse salvar o menino do encanto.
Ao chegarem à margem do lago, Vó Esperança já balbuciava uma oração, que Joaninha não conseguia ouvir direito, mas que também não ousava perguntar qual era. O que lhe afligia, de fato, era a possibilidade de perder o namoradinho de vez para a mulher do lago.
A boa senhora deu a Joaninha o Crucifixo e disse para que o apertasse contra o peito, rezasse um Pai Nossa e uma Salve Rainha e que, ao final, gritasse três vezes bem forte pelo nome do garoto. Enquanto a menina contrita rezava, a mulher colocou o terço em volta ao pescoço, como um cordão, voltou a balbuciar suas orações e pôs-se a bater com os galhos das ervas, nas águas do lago. A menina ao terminar as suas rezas gritou forte três vezes por Pedrinho, como lhe fora ordenado.
Tudo em vão. Nem um sinal do menino, que nunca mais foi encontrado. Há quem diga, porém, que, até hoje, vez em quando se pode ver um garoto jogando bola, na margem do lago, e que ele parece muito com Pedrinho, mas, assim que alguém se aproxima, ele mergulha no lago. Se é o Pedrinho mesmo, ninguém sabe, mas que parece com ele, quem já viu o garoto, garante que parece.
Esse conto me chegou por e-mail através do amigo Ernâni Motta.
Estou publicando em homenagem a meu filho Pedro que está aniversariando e inaugurando a nova idade de 13anos.
PARABÉNS PEDRINHO !
29-06-2009