Lendo tantos blogs que postaram sobre o tema da Blogagem Coletiva pela “Valorização da Mulher Brasileira”, teve um que me chamou bastante atenção o Blog do Freitas, por homenagear uma das mulheres que mais admiro, por desenvolver trabalhos de arteterapia voltados para pessoas com deficiência - Lygia Clark.
A artista plástica mineira Lygia Clark acreditava que arte e terapia psicológica andavam de mãos dadas. Tanto que, com base em objetos manuseáveis que criava ou recolhia da natureza, como balões de ar, sacos de terra e água e até pedras, pensava ter o dom de curar os males da alma. Certa feita, uma aluna entrou em transe profundo e caiu desmaiada, durante uma das sessões da arteterapia de Lygia, na Sorbonne, em Paris, na década de 70. Dando graças a Deus que não era nada grave, a artista explicou que a jovem não tinha o preparo psicológico necessário para suportar os exercícios de sensibilização e relaxamentos, que "liberavam os conteúdos reprimidos e a imaginação" dos alunos.
Aqueles instrumentos, que nas mãos de Lygia assumiam poderes imprevisíveis, eram chamados por ela de objetos sensoriais. Tais objetos nunca foram vistos por bons olhos por psicanalistas franceses e brasileiros, porque ela não tinha formação acadêmica na área. Lygia, por sua vez, não deixava ninguém sem resposta. Comprava briga com qualquer um que ousasse falar mal de seu trabalho, que tinha por trás conceitos dos mais sofisticados, elaborados por ela mesma.
Nascida na Belo Horizonte de 1920, numa tradicional família mineira, esqueceu tudo o que aprendera no colégio de freiras Sacre-Coeur depois que resolveu virar pintora, em 1947. Naquele ano, mudou-se para o Rio, decidida a estudar pintura com Roberto Burle Marx. Até juntar-se ao amigo e também artista plástico Hélio Oiticica, na década de 50, não ousava em sua arte. Com Oiticica, entretanto, aventurou-se em grupos de vanguarda como o Frente, de Ivan Serpa, e os neoconcretos, que incluíam o poeta Ferreira Gullar.
"Detesto ler, gosto mais é de encher a cara e jogar biriba", dizia Lygia. Definitivamente, não era uma mulher como as outras de seu tempo - aquelas que só sabiam bordar e cozinhar, além de cuidar do marido e dos filhos. Não que ela nunca tivesse feito isso, pelo contrário. Casou virgem aos 18 anos, com o engenheiro Aloisio Ribeiro, e foi mãe de três filhos. Mas o tempo passou e Lygia foi se dedicando cada vez mais ao trabalho, até que foi devidamente recompensada, nos anos 60, quando ganhou reconhecimento internacional. Não como pintora, é verdade, mas por suas experiências terapêuticas.
Na década de 70, rejeitou o rótulo de artista e exigiu ser chamada de "propositora". Deu aulas na Sorbonne, de 1972 a 1977, e voltou ao Brasil em 1978 para dar consultas particulares. Dez anos depois, morreu de parada cardíaca. Estava com 68 anos e deixou uma legião de seguidores que não se cansam de reinventar sua arte.
Fonte: Revista Isto É
Denise BC
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